segunda-feira, 6 de junho de 2011

Matéria sobre transporte coletivo no Popular de 06/06/2011

Ônibus cada vez mais vagarosos

Estudo revela que em 3 anos velocidade dos ônibus caiu 28% na capital. Av. Universitária é a mais lenta.



Devagar, quase parando. Assim estão os ônibus que rodam nos oito principais corredores do transporte coletivo da capital. Nos últimos três anos, a velocidade média da frota que circula nos maiores eixos de trânsito em Goiânia caiu 28%. Caso o pedestre resolva apressar o passo, anda mais rápido que os ônibus. Se as ciclovias existissem, com algumas pedaladas facilmente se chegaria ao destino primeiro que o transporte coletivo. E menos velocidade significa mais atrasos nas linhas e insatisfação dos usuários. Também revela a falta de políticas públicas que privilegiem o transporte em massa.

Em 2008, os ônibus rodavam a uma velocidade média de 19,6 quilômetros por hora nos horários de pico. No mês passado, um estudo elaborado pelo Consórcio da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) revelou que a média de velocidade caiu para 14,1 quilômetros por hora. O estudo foi realizado entre os dias 10 e 12 de maio, numa terça, quarta e quinta-feira. Foram dias comuns, nos quais não houve passeatas, manifestações, acidentes ou qualquer outra eventualidade que pudesse interferir no desempenho dos ônibus e alterar os resultados do levantamento.

A pesquisa registrou a Avenida Universitária como a que tem trânsito mais lento ( veja quadro ). A velocidade média no trecho entre as Praças Universitária e Cívica foi de 10,6 quilômetros por hora, entre as 18 horas e as 19 horas. Nesse período a via recebe intenso fluxo de carros, motos e ônibus que saem e chegam das duas praças. Ainda é roteiro do transporte coletivo, a partir do Terminal da Praça da Bíblia, de onde partem ônibus que cortam a cidade e levam pessoas da Região Norte até a Região Sul da capital.

Com o transporte coletivo mais lento, os pontos de ônibus ficam cheios mais rapidamente. Leandro Biuca Pires Martins enfrenta essa superlotação de segunda a sexta-feira na Praça Universitária. Ele embarca no início da noite, quando volta da Faculdade de Ciências Aeronáuticas. Com destino à Avenida T-9, precisa atravessar três das vias mais congestionadas na capital para chegar em casa. "Sair da Praça Universitária e passar pela Praça Cívica é difícil, mas a Avenida 85 é o pior de todos os trechos", critica.

Rotina parecida tem Nara Rúbia Rodrigues do Nascimento. Na última sexta-feira, ela estava preocupada com o horário, pois já passava das 18 horas e fatalmente pegaria o trânsito mais carregado. "Quando entro no ônibus nessa hora do dia levo o dobro do tempo para chegar em casa", diz. Ela é passageira da linha 019, que a leva da Praça Universitária até o Terminal Cruzeiro.

No caminho, Nara Rúbia passa pela Avenida 85, onde nesse horário a circulação do transporte coletivo não ultrapassa a velocidade média de 11,4 quilômetros por hora. Mais adiante, o fluxo de automóveis trava novamente, agora na Avenida T-10, onde Janeth Pereira Torres também pega ônibus, mas no sentido contrário. A doméstica lia uma revista de celebridades no início da noite de quinta-feira, depois de ter embarcado. Era uma tentativa de não ver passar os 20 minutos que chega a levar - nos piores dias - entre os seis quarteirões que separam a esquina das Ruas C-233 e C-244, no Jardim América, e o cruzamento das Avenidas T-10 e T-2, no Setor Bueno.

Janeth Pereira Torres usa o serviço em horário de pico. Há uma década ela trabalha na região e observa que, neste período, o tempo gasto dentro do ônibus no caminho para casa aumentou quase meia hora. A empregada doméstica mora na Vila Santa Helena, na Região de Campinas. Diariamente ela é passageira da linha 011, segue até o Terminal da Praça A e faz baldeação. A mulher de 41 anos não se surpreende com os dados da pesquisa. "Eu já sabia que a viagem está mais demorada.".

Na avaliação do diretor geral do consórcio RMTC, Leomar Avelino Rodrigues, esses problemas no trânsito são mais que esperados. Podem até ser considerados naturais diante da produção elevada de automóveis, da crescente venda de carros e motos, do aumento do poder aquisitivo da população e dos incentivos oferecidos pelos governos em benefício do transporte individual, como a dedução de impostos. "Por outro lado, temos uma contrapartida aquém do necessário por parte do poder público. Vivemos uma tendência negativa em relação ao trânsito, caminhando para o caos", disse.

As estatísticas dos veículos do transporte coletivo em Goiânia revelam um número impressionante. Eles rodam 8,5 milhões de quilômetros por mês, distância equivalente a 212 voltas na Terra. Mas poderiam circular muito mais, pois a velocidade média da frota tem impacto direto na qualidade do trânsito e do serviço prestado aos usuários.

Em 1998, cada veículo fazia uma média de 14 viagens diárias. Dessa data até hoje, a frota de automóveis e motocicletas aumentou 75% em Goiânia. O resultado foi a redução da média de viagens dos ônibus para oito, pois eles ficam presos nas ruas com cada vez menos fluxo devido ao excesso de carros. E raramente um ônibus deixa de circular. O cumprimento da planilha de viagens é de 99,5%, segundo a RMTC.

Pelo fato dos ônibus disputarem espaço com os automóveis, nem mesmo o incremento da frota do transporte coletivo ajudaria a melhorar a vida do passageiro. Os levantamentos mais atuais da RMTC apontam que apenas 59% das viagens são cumpridas com a exatidão que foram planejadas. São mais de 628 mil horários programados por dia. Destes, mais da metade fica em atraso. "Os horários de pico são os que mais precisamos cumprir. É justamente neles que encontramos mais dificuldades", admitiu o diretor geral do consórcio RMTC, Leomar Avelino Rodrigues.
Fonte: http://www.opopular.com.br/cmlink/o-popular/editorias/geral/%C3%B4nibus-cada-vez-mais-vagarosos-1.8157

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